O circuit breaker é um mecanismo de proteção da B3, a bolsa de valores do Brasil. Ele é acionado sempre que o índice da bolsa cai mais de 10% em relação ao dia anterior. Quando o recurso é ativado, todos os negócios são literalmente interrompidos por pelo menos 30 minutos, e podem ser pausados novamente caso a queda continue.
A função do circuit breaker é equilibrar as compras e vendas no mercado. O dispositivo só é acionado quando há muita volatilidade, o que normalmente acontece em momentos atípicos. A expectativa é de que quando o mercado reabrir, o índice esteja maior do que quando fechou.
Por ser um recurso drástico, a utilização dele normalmente causa apreensão no mercado. Afinal, se a ferramenta foi ativada, é sinal de que as coisas não estão bem. Mas isso não significa que é hora de deixar seus investimentos para trás. Pelo contrário: o mecanismo serve exatamente para o investidor não perder mais dinheiro.
Como funciona o circuit breaker?
A pausa nos negócios é feita em etapas. Quando o índice fica abaixo dos 10% em relação ao dia anterior, o recurso é utilizado pela primeira vez. As operações são interrompidas por 30 minutos e, após o período, voltam a acontecer.
Se o índice voltar ao normal após a pausa, o mercado segue operando até o fechamento. Mas, se continuar baixo, uma nova interrupção pode acontecer. O dispositivo é acionado novamente caso a desvalorização passe dos 15% em relação ao dia anterior. Desta vez, a parada dura 1 hora.
Se a segunda pausa não reequilibrar o mercado, a B3 pode tomar uma medida mais drástica. Caso as perdas passem dos 20% em relação ao dia anterior, a bolsa é suspensa por tempo indeterminado. Isso nunca aconteceu na história.
Para entender melhor, veja o esquema abaixo:
Perdas | Tempo de parada |
Mais de 10% | 30 minutos |
Mais de 15% | 1 hora |
Mais de 20% | Tempo indeterminado |
Regras do circuit breaker
Além do índice de negócios, há outras regras que impedem ou permitem o acionamento do circuit breaker na B3.
O mecanismo não pode ser ativado se o pregão estiver nos últimos 30 minutos de funcionamento. Na prática, a ferramenta só pode ser acionada até as 16h30, já que as negociações são encerradas às 17h.
Se o circuit breaker acontecer na penúltima meia hora, ou seja, entre 16h e 16h30, o pregão ganha mais tempo. São pelo menos 30 minutos adicionais em que uma nova interrupção não pode ser ativada. Todos os procedimentos relacionados ao circuit breaker estão explicados no manual da B3.
Circuit breaker x leilão de ações
Além do circuit breaker, há um outro recurso de proteção na bolsa brasileira: o leilão de ações.
Mas o leilão funciona de uma forma diferente. Enquanto no circuit breaker todas as negociações são interrompidas, no leilão, elas não são efetivadas imediatamente.
A bolsa segue registrando as transações de compra e venda, mas elas só são efetivadas quando os preços batem. Isso assegura que o descontrole dos preços seja evitado.
Também há regras para o acionamento do leilão de ações, que dura apenas cinco minutos. Veja abaixo:
- Queda ou valorização de mais de 10% no preço da ação em relação ao dia anterior;
- Perda ou alta de mais de 10% no preço da ação em relação à abertura do mercado;
- Flutuação entre 10% e 19,99% no valor da ação antes do leilão.
Histórico do circuit breaker
Por ser utilizado apenas em situações muito específicas, o circuit breaker aconteceu poucas vezes na história. Mas, nas últimas semanas, o mecanismo foi ativado algumas vezes por conta dos efeitos da pandemia do novo coronavírus na economia.
A ferramenta foi acionada pelo menos seis vezes desde o início da pandemia, o que fez da B3 a bolsa mais afetada pela crise no mundo.
Antes do coronavírus, o pior momento da bolsa brasileira foi em 2008. Foi na chamada crise do subprime, que estourou nos Estados Unidos e levou o mundo a uma recessão. De 29 de setembro a 22 de outubro daquele ano, a B3 também registrou seis circuit breakers.
Também antes de 2020, a última vez que o mecanismo tinha sido acionado foi em maio de 2017. A bolsa despencou por causa das gravações do empresário Joesley Batista contra o então presidente da República, Michel Temer.
Circuit breaker no fim dos anos 1990
Mas a primeira vez que o recurso foi ativado foi em 28 de outubro de 1997. Na data, a bolsa caiu mais de 14% por causa da crise asiática. Na ocasião, a pausa durou 1 hora. A crise asiática ainda rendeu outras duas interrupções, em 7 e 12 de novembro do mesmo ano.
Depois da crise asiática, uma outra crise impactou o mercado brasileiro no fim dos anos 1990: a russa. A instabilidade no maior país do mundo fez com que a bolsa ativasse a interrupção cinco vezes em 1998. As pausas aconteceram em 21 de agosto e 4, 10 (duas vezes) e 17 de setembro.
No cenário interno, a crise do câmbio flutuante fez com que a B3 acionasse o circuit breaker duas vezes. Os intervalos foram nos dias 13 e 14 de janeiro de 1999.
Após a instabilidade do câmbio flutuante, o circuit breaker só voltou a ser utilizado na crise do subprime dos Estados Unidos. Foram quase 10 anos sem que a bolsa recorresse ao mecanismo. O intervalo entre a última pausa de 2008 e a da delação de Joesley Batista também foi grande: quase 9 anos.
Antes disso, porém, a bolsa de valores brasileira teve uma profunda queda. Aconteceu no dia 11 de setembro de 2001, por causa do ataque terrorista ao World Trade Center, em Nova York. A B3 caiu tanto que o mercado foi fechado antes mesmo de ter uma interrupção.
Veja abaixo todos os circuit breaks que já foram acionados na história da B3:
Data | Causa | Duração |
28 de outubro de 1997 | Crise asiática | 1 hora |
7 de novembro de 1997 | Crise asiática | 30 minutos |
12 de novembro de 1997 | Crise asiática | 30 minutos |
Data | Causa | Duração |
21 de agosto de 1998 | Crise russa | 30 minutos |
4 de setembro de 1998 | Crise russa | 30 minutos |
10 de setembro de 1998 | Crise russa | 30 minutos |
10 de setembro de 1998 | Crise russa | 1 hora |
17 de setembro de 1998 | Crise russa | 30 minutos |
Data | Causa | Duração |
13 de janeiro de 1999 | Câmbio flutuante | 30 minutos |
14 de janeiro de 1999 | Câmbio flutuante | 30 minutos |
Data | Causa | Duração |
29 de setembro de 2008 | Crise do subprime nos Estados Unidos | 30 minutos |
6 de outubro de 2008 | Crise do subprime nos Estados Unidos | 30 minutos |
6 de outubro de 2008 | Crise do subprime nos Estados Unidos | 1 hora |
10 de outubro de 2008 | Crise do subprime nos Estados Unidos | 30 minutos |
15 de outubro de 2008 | Crise do subprime nos Estados Unidos | 30 minutos |
22 de outubro de 2008 | Crise do subprime nos Estados Unidos | 30 minutos |
Data | Causa | Duração |
18 de maio de 2017 | Delação de Joesley Batista | 30 minutos |
Data | Causa | Duração |
9 de março de 2020 | Crise do coronavírus | 30 minutos |
11 de março de 2020 | Crise do coronavírus | 30 minutos |
12 de março de 2020 | Crise do coronavírus | 30 minutos |
12 de março de 2020 | Crise do coronavírus | 30 minutos |
16 de março de 2020 | Crise do coronavírus | 30 minutos |
18 de março de 2020 | Crise do coronavírus | 30 minutos |
Afinal, como o circuit break afeta o mercado?
O acionamento do circuit break gera pânico no mercado, e não daria para ser diferente. Afinal, uma interrupção total nas negociações nunca é um bom sinal. Mas como isso afeta o mercado?
No fim, o circuit break é um mecanismo de segurança. Ou seja, a ativação do recurso serve para proteger os investimentos na bolsa e acalmar os acionistas.
A pausa no mercado faz com que as ações se desvalorizem menos. Após os acionamentos, os preços costumam voltar ao normal e é comum que a bolsa feche o dia em um nível mais estável.
Em um dos usos do recurso no mês de março, por exemplo, a bolsa voltou no dia seguinte com alta de 5%.
O que fazer em um cenário assim?
Por mais que o circuit breaker possa causar pânico, o importante é não se desesperar com ele. Crises fazem com que as ações se desvalorizem, mas isso não significa que as coisas não voltarão ao normal.
Investir na bolsa de valores é conviver com o risco. Instabilidades profundas como a do coronavírus ou do subprime têm um certo valor. Esses momentos são ótimos para que o acionista repense seu perfil e podem, sim, trazer bons frutos no futuro.
Uma interrupção momentânea no mercado não significa que todo o seu dinheiro investido foi para o ralo. Tampouco indica que a bolsa vai quebrar. O melhor a se fazer em situações como essa é ter calma e tomar decisões bem pensadas, com cautela.