João Paulo Pacífico: o executivo que quer transformar o mundo

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Uma figura incomum que quer transformar o mundo. Conheça a história de João Paulo Pacífico, fundador do Grupo Gaia

Como é esse começo de carreira?

Eu comecei a trabalhar em 1999, na empresa Rio Bravo. Eu tive muita sorte no começo porque o Gustavo Franco tinha sido presidente do Banco Central, pouco tempo antes. Eu era estagiário, não sabia nada de nada e eu dava carona para ele no meu Uno Mille sem ar condicionado, sem direção hidráulica e com isso ia  aprendendo como é que ele queria o Plano Real. Então mesmo antes de empreender, eu comecei a empreender em 2009 com a Gaia, eu vi empreenderem do meu lado. E então foi isso, aí eu fui estudando e  aprendendo.

 Mas Finanças era algo que estava na sua mente já ou aconteceu por acaso?

É o seguinte, eu fiz engenharia de produção mecânica. Aí no segundo ano teve uma coisa emblemática na minha vida, que eu fui com um amigo meu fazer um trabalho e fomos visitar uma fundição. E eu pensei "Putz, não é aqui, não é isso que eu quero fazer da minha vida, quero fazer outra coisa." E aí, na época, tinha uma moda de engenheiros irem para o mercado financeiro. Só que foi assim, no começo de 1999 eu comecei a procurar estágio. E eu sou muito otimista, acho que desde de sempre. 

Então, toda  entrevista que eu fazia eu tinha certeza que eles iriam me contratar, mas não me contratavam. Até que, no final do ano, o Paulo Bilyk, que era esse ex-sócio do Pactual na época, iria montar uma empresa e ele me chamou porque tínhamos contatos em comum. Eu fui lá, fiz a entrevista e ele disse "você quer trabalhar com a gente?". Depois, olhando para trás, eu fiz trocentas entrevista de estágio e eu fui aprovado lá, era o melhor lugar que eu poderia ser aceito, porque em nenhum dos outros eu iria ter o contato direto com dois x-banqueiros e com o ex-presidente do Banco Central. Então, são coisas da vida.

Você acha que isso despertou alguma coisa a mais para você hoje, dentro da Gaia, incentivar e, de certa forma, ajudar as pessoas como te ajudaram?

Total. Acho que a vida é muito isso, a vida são as pessoas se ajudando, ninguém chega a nenhum lugar sozinho. Então, foi muito bom, eu sou super grato, grato a muita gente incrível que eu tive a oportunidade de conviver. 

 Acha que isso contribuiu muito para o seu desenvolvimento no longo prazo?

Super. Eu lembro uma vez que eu estava trabalhando, estava no começo da carreira, e eu recebi uma proposta para trabalhar em uma incubadora de negócios, começo de 99/2000, e teve depois a bolha da internet. Não era nada de mais, mas iria ganhar bem mais do que eu ganhava na época. 

Eu lembro que o meu pensamento foi "o que vai me levar mais longe na carreira: um salário maior agora para trabalhar nesse lugar, por mais que seja maior esse salário, ou ficar onde eu estou e aprender o que eu estou aprendendo com que esse monte de gente?"  E aí, sem dúvida, onde eu estava ia me levar muito mais longe. Então, eu tive exatamente esse pensamento para não mudar de emprego e ainda bem que eu não mudei. 

E esse momento de saída da Rio Bravo, como foi para começar o seu negócio próprio?

A saída foi muito tumultuada. Foi em 2007, eu estava lá há muito tempo. A gente estava captando dinheiro, em uma das empresas nossas a gente estava trazendo dois sócios de fora. Eu não era super alinhado em termos de valores e de cultura com esses sócios e veio uma proposta que me parecia super interessante e eu falei "Tá bom, eu vou?". 

Quando eu cheguei de volta na Rio Bravo e eu falei "Então gente, eu vou sair.",  nossa, caíram cima de mim de uma forma… Aí eu fui para um banco sul-africano chamado Standard Bank. Quando estava trabalhando lá há um mês e meio, super empolgado, um dia me chamaram para o almoço. E eu fui almoçar em um restaurante italiano, aqui em São Paulo, e sentaram três pessoas comigo na mesa. Sentei le começaram a me perguntar o que eu achava de tal coisa, do mercado imobiliário, de um monte de coisa e eu só fui falando. No dia seguinte, o Paulo Cunha, me ligou e falou "Você vai trabalhar com a gente.". Levei 8 anos para sair de uma empresa e em um mês sairia da outra, mas eu vi que eram os Midas.

Quando cheguei no Standard falei com o Owen, que era o meu chefe, um gringo super legal, e eu falei "Cara, não sei, mas eles falaram que tudo que eu falei vão fazer e os caras são gigantes!". E ele foi muito legal, eles viram como foi difícil sair da Rio Bravo e falaram "Não, tudo bem, eu entendo.”. E  daí eu fui trabalhar no Banco Matone. 

Montamos uma equipe bem grande e estava indo legal, a gente começou a crescer mesmo, até que veio a crise de 2008. Teve um dia que eu demiti uma galera de São Paulo, peguei o avião, fui para o Rio para demitir mais pessoas. E daí eu comecei a ficar com esse negócio na cabeça "Poxa, acho que está na hora de abrir meu negócio.". Só que eu não tinha grana para fazer isso.

Logo depois, apareceu uma operação financeira que eu não conseguiria fazer pelo banco, porque tinha a ver com outros bancos, mas se eu montasse uma securitizadora, eu conseguiria fazer aquela operação e bancar os custos. Aí eu fui lá, conversei com eles, fechei o contrato com cliente, sai do banco super de boa, tanto é que o banco depois virou cliente da Gaia, então saímos realmente super bem, e montei a Gaia.  

Dia 19 de março, primeiro dia de empresa, fui para o Rio de Janeiro para uma reunião com esse cliente e eles desistiram da operação, ms tinham uma multa muito grande para nos pagar. Quando emiti a nota e os caras não pagavam, a gente continuou com aquele que desejo de fazer o negócio, eu comecei a pegar vários clientes.Neste meio tempo, descobrir que essa pessoas não eram com as quais eu gostaria de fazer negócio, a ética deles era bem diferente da minha e nunca mais cobrei a multa. 

E como é que deu certo?

Os valores  que a gente tem hoje na Gaia sempre procurei ter eles como ser humano. Então, eu  sempre fui muito verdadeiro, mas querendo o bem do outro. No começo, tive umas ideias que eu falei que, no mercado, fazia sentido a gente securitizar para incorporadoras, para shopping. E com uma empolgação um pouco acima do normal, convenci as pessoas de que faria sentido e que a gente teria condição de fazer isso mesmo sendo uma empresa de três pessoas. Juntando com a Brookfield, que é uma incorporadora grande, e do outro lado o Pactual, e a gente fazia negócio.

E o que é a securitização?

Não tem nada a ver com seguros, mas nome vem do inglês Security, que é título. Por exemplo, em uma incorporadora, digamos a Cyrela, ela vai lá e vende a prazo os apartamentos. Vende em 120 meses, para as pessoas pagarem R$1000 por mês durante 120 meses.

Só que o Juliano (apresentador do podcast, ex-diretor da Cyrela), não quer ficar 10 anos recebendo aquelas parcelas, todo mês, porque ele constrói em dois ano. Aí o Juliano chega para a Gaia e fala "Vocês não querem comprar esses recebíveis?" Ao invés de receber durante 10 anos, recebe tudo de uma vez. E os clientes da Cyrela, ao invés de pagarem para Cyrela, vão pagar para a Gaia.

Se a Gaia não tem 100 milhões, o que a gente faz, a gente emite um título no mercado financeiro, no mercado de capitais. São investidores que tem 100 milhões hoje, ou na somatória deles tem 100 milhões, que dão esse dinheiro à vista para receber o pinga-pinga todos os meses. 

Quais foram, nesses anos, as maiores dificuldades você teve para tirar isso do papel, para ser hoje uma das maiores securitizadoras do Brasil?

Uma coisa que é simples e que você acaba fazendo de vez em quando, é demitir alguém e para mim dói demitir alguém. Teve um caso para mim foi bem difícil, a gente fez uma operação, que foi uma securitização não-financeira que envolvia também um grande banco do Brasil, super sério, e uma empresa de transporte, mas sem falar os nomes. Até que um dia, tinha uma empresa que a gente não ia usar mais e mandamos fechar essa empresa, não tinha dívidas, nada, só para fechar. 

Um belo dia, chegou e um fiscal da Secretaria da Fazenda aqui na Gaia e todo mundo ficou desesperado. Aí começou a ter pressão de todo lado e eu comecei a me consultar com advogados para saber como que funciona. E aí que eu cheguei a ouvir de advogado "Você vai levar uma multa de até 150 milhões de reais.". Para mim foi difícil, mas você tem que sempre seguir seus princípios e os seus valores, sempre. Eu falava isso para todo mundo, falava "Nunca ninguém vai sentar sozinho com ninguém, a gente não fez nada, se for pra fechar porque a operação foi errada e a gente não sabia,  alguém julgou o que é errada, a gente vai pagar por isso, eu pago por isso, paciência." 

Você foi totalmente sem investidores externos. É um desafio grande hoje, você acha que ainda é possível fazer isso?

Quando eu montei a Gaia, o Pactual estava querendo me levar para lá. Eu falei que não e eu convenci os caras de eu tinha uma empresa, de três pessoas, mas eu tinha uma empresa. Na época, o André Esteves era o grande cara do mercado financeiro, ele não deve lembrar disso, mas eu tive uma ou duas reuniões com ele e ele é super sedutor. 

Eles me convenceram de que se eu fosse sozinho, não iria dar certo. E a Gaia já era lucrativa nessa época. E eu e minha sócia na época fomos  em uma reunião no Pactual e tinham três sócio grandes de lá com o Esteves. Voltando no começo dessa reunião, falaram assim "Queremos falar só com você, sua sócia espera na recepção.". Isso já me incomodou. 

Nessa reunião com os três sócios, um deles não foi muito legal, falando de uma forma que serve para todas as idades. Com isso, eu falei "Caramba, não quero, então, não vou mais fazer negócio com vocês.". Isso foi muito bom, porque o fato de não ter captado dinheiro com outros fez a Gaia ser o que é hoje. 

Quanto disso do propósito está presente, não só  internamente? A gente vê a dificuldade de às vezes pregar sozinho. Quanto que isso está estimulando interna e externamente?

Propósito é o que nos move. Nós estamos aqui para fazer um mundo melhor de verdade. Eu tenho um princípio que uma empresa que tem como único objetivo maximizar o lucro dos acionistas é uma empresa miserável. Eu estudei muito felicidade, estudar mesmo a felicidade, não é o que traz, não é simplesmente o oba-oba, mas tem uma ciência por trás disso. E para as coisas fazerem sentido na vida, é muito além do teu dinheiro. 

Eu participei de um evento da Rede Mulher Empreendedora em que, um pouco antes de eu entrar para falar, uma pessoa estava falando. Acabou a palestra, eu cheguei  para participar de um painel e estava todo mundo em pé chorando e aplaudindo. Eu perguntei quem tinha falado nesse evento, porque estava o pessoal todo emocionado. Responderam que foi a Maitê Schneider, uma mulher trans. 

Depois que a gente for gravar um programa na Rádio Globo, sobre diversidade, falamos de chamar a Maitê. Chamamos ela, a Rachel Mayer, que é a CEO da Lacoste atualmente, uma pessoa incrível que saiu da comunidade, sete irmãos, negra, mulher e chegou nesses cargos. 

E aí eu comecei a conhecer as pessoas trans, até então eu não sabia direito o que era ser trans. Para ter uma ideia, imagina que você nasceu você e você não se reconhece no seu corpo. E conheci alguns dados que assustam: a expectativa de vida de um trans no Brasil é 35 anos, e não é porque ele tem qualquer problema genético, não, é porque ele é expulso de casa, ele não consegue entrevista de emprego, ele não consegue ter atendido no médico. Não é porque elas querem, você não tem o que comer, você não tenho que fazer, e eu falei "Caramba, realmente, eu nunca entrevistei uma pessoa trans na minha vida.".

Foi a partir daí que montamos um processo aqui na Gaia e a gente direcionou esse processo para contratar transexuais. Nesse processo escolhemos o Caio. Eu cheguei no meio de uma entrevista e falei "Caio, parabéns, você foi contratado agora você é um gaiano". E daí ele começou a chorar, chorar nunca vi isso. Quando ele parou de chorar e eu falei que, além disso, a gente iria ajudar e pagar a sua troca de nome social, para sair em todos seus documento. Naquele momento, ele me abraçou e eu juro que o sentimento que veio na minha cabeça, sem pensar, foi “tudo que a gente faz até hoje valeu a pena por causa desse momento.”. Tem uma frase legal que é: “Diversidade é você chamar para o baile, inclusão é você chamar para dançar.”.  

Você pode contar um pouco mais para gente como que são os 10 valores da Gaia? E o que quer dizer Gaia?

Gaia é a deusa da Terra. E tem uma hipótese que se chama Hipótese de Gaia, que fala que a Terra é um ser vivo, aliás, é um ser vivo que se a gente não cuidar, vai morrer. Quando eu fui montar a Gaia, em 2009, para aprovar uma empresa na CVM, na época, demorava pelo menos uns 6 meses. Eu não tinha grana para ficar 6 meses esperando a CVM me aprovar. Daí eu encontrei, por sorte, uma empresa aberta pré-operacional que nunca tinha feito nada, mas que o cara queria fechar, porque não fez negócio, que chamava Gaia. E aí eu comprei o CNPJ, comprei uma casca. 

A gente parte do princípio de que o que tem de mais importante numa empresa não são as pessoas, são os valores, porque as pessoas passam e os valores ficam. Mas note que quem os vivem são as pessoas. E esses valores começam com pratique a gratidão, daí ninguém é feliz sem ser grato. E você passa a reconhecer coisas que as outras pessoas ou que antes você não reconhecia. Então, esse é nosso primeiro valor, que é super importante. 

E em uma empresa, a mesma coisa, por que quantas pessoas acabam saindo da empresa por falta de reconhecimento? E a gratidão, ela estimula o reconhecimento de um com o outro. Tem uma frase que é elogiar o esforço, não o resultado. E quando você elogia esforço, isso é óbvio, se você tiver um esforço direcionado você tende a ter melhores resultados no que quer que seja. E esta é a grande diferença. 

Voltando um pouco caso dos valores, da cultura e das pessoas se adaptaram a cultura. Quem que diz o "não" aqui para um cara que parece um executivo espetacular, é um colaborador incrível, mas os valores, ficou claro que não se adaptaria? Permeia pela empresa inteira?

Total, pela empresa inteira. Obviamente, em algum ponto eu posso ser a pessoa que vai dar essa resposta, depende do cargo, mas permeia pela empresa inteira. Se o gestor não estiver respondendo legal, a gente tem o nosso RH que se chama Área Vip, que é Valores Integrando Pessoas, vai falar com a VIP. E a gente vai tentar interferir para resolver. 

Isso é muito legal porque, independente do cargo da pessoa, e como a gente fala muito isso, a gente tem que ser coerente. Já tivemos gestores que saíram, ou que foram saídos, porque não estavam alinhados com os valores e tudo bem, sai bem. Eu acredito que tem que ter líderes em uma empresa e qualquer grupo, ou bando, precisa ter líder. Os maiores líderes tem que ser os maiores exemplos da vivência dos valores. Se um cliente nosso, uma outra empresa, está desrespeitando a gente, eu não quero prestar serviço para ele. Ninguém vai desrespeitar um gaiano. 

Qual é o propósito e os valores da Gaia?

É desenvolver empresas saudáveis, felizes e com propósitos. E tem várias operações que a gente faz, até buscando esse impacto positivo no planeta. 

Os  10 valores são:  

1: "Pratique a gratidão"; 

2: "Sorria e faça sorrir"; 

3: "Vá além e surpreenda"; 

4: "Viva com garra"; 

5: "Comunique-se sincera e honestamente"; 

6: "Crie valor, gere resultado"; 

7: "Simplifique: faça mais com menos"; 

8: "Fortaleça o grupo, unidos vamos mais longe", que é importante falar que a gente é contra a competição interna aqui;

9: "Espalhe gentileza, engrandeça as relações", se você quer ser feliz, tem que ter boas relações, se não você não vai ser feliz;

10: "Celebre". 

De onde nasceram esses valores? O pessoal adere bem a isso?

E eles foram criados em uma época que eu entendi isso a partir da experiência da Zappos, que é uma empresa que vende tênis, sapatos nos Estados Unidos, uma coisa bem básica, mas eles tem valores muito fortes. E a gente bolava dinâmicas com os gaianos de cada um dos valores.

E sobre a Gaia Mais, pode contar um pouco para a gente? Como nasceu, como surgiu?

Gaia Mais é uma ONG que a gente criou em 2014. Eu tinha lido um livro que chama “The Promise of a Pencil". Ã‰ um cara que estava viajando mundo, era um jovem de 20 e poucos anos visitando vários países em desenvolvimento e ele perguntou para uma criança "Qual é o seu sonho, qual é o sonho da sua vida?" A criança falou meu sonho "Meu sonho é ter um lápis.". E o cara pensou que tinha alguma coisa errada. Aí ele abandonou a Bain & Company, onde trabalhava e começou a organizar a festa de Nova York para construir escolas na África. 

Um dia, eu acordei e veio uma ideia muito forte durante um sonho, pode parecer viagem, mas é. E eu pensei "Caramba, eu tenho que fazer isso,". Foi a melhor ideia que eu tive na minha vida, que foi montar uma ONG para ensinar português, matemática e esporte para crianças. A Gaia tinha cinco anos, uma empresa pequena, que não tinha nenhuma estrutura para montar uma ONG. Contratamos pedagogos e eu falei "Tem que ser a coisa mais legal do mundo para as crianças ir no contraturno da escola.”. Só crianças em vulnerabilidade social para ter almoço, meditação que é uma coisa que eu faço há muito tempo. Logo mudou para brincadeira porque a gente viu a importância da brincadeira. A gente pensou que não iríamos conseguir ensinar as crianças só essa parte, temos que ir além. E daí começamos a trabalhar psicologia positiva, comunicação violenta, mindfullness, tudo o que tinha de moderno no mundo para colocar lá dentro. E fizemos em várias ONGs escolas públicas do Brasil, mais de 10 mil crianças a gente impactou diretamente, estreando mais de 500 professores. 

Sobre sistema B, como isso pode ajudar a captar mais, você que está na área financeira?

As empresas B, é um movimento que começou alguns anos atrás de empresas que querem o melhor para o mundo. Hoje no Brasil tem um pouco mais de 150 empresas, ou por volta disso, mas tem mais de 4 mil em processo de certificação. Então, é um movimento que está crescendo e eles olham a sua relação com o meio-ambiente, a sua relação com a comunidade, a sua relação com os funcionários, a sua governança, e tem que comprovar tudo isso. 

No Brasil fomos uma das primeiras empresas B, somos desde desde 2014. Um ponto que é importante: a gente não é contra o lucro. A gente nunca captou um centavo, então, sem lucro nunca teríamos ajudado as crianças da Gaia Mais e a gente não teria feito o que a gente fez, mas o lucro como meio e não como um fim.

Na parte de tecnologia, apesar de jovem ainda, a tecnologia vem mudando o mercado como um todo. Como você está vendo isso no seu negócio e nos negócios em geral?

A tecnologia é um caminho sem volta. A gente montou uma empresa de tecnologia, que hoje atende só a Gaia, fica em Salvador. Temos uma equipe de programadores e dessa turma de TI que, hoje em dia, só programam para os sistemas da Gaia. Para mim, inovação tem que falar de pessoas, porque a tecnologia é fato, vai acontecer, não tem como não acontecer. Independente do ramo, você tem que olhar para isso, mas inovação de verdade é na gestão de pessoas. Os números hoje de pessoas que não estão bem consigo próprias é gigantesco. E aí sim, eu acho que tem que ter uma inovação.

Qual a sua visão do Brasil hoje? O que está vendo do presente para o futuro?

Sou otimista, mas eu acho que tem que tomar cuidado. Me preocupa muito a polarização que existe. Então, essa polarização, esse ódio, esses embates que vimos nas últimas eleições. Por outro lado, eu vejo cada vez mais pessoas engajadas em fazer uma coisa legal, engajadas em unir. Uma coisa que é bizarra é que a gente vê as pessoas brigando, mas no fundo, se você falar assim "O que você quer?", eu tenho certeza que os dois querem um Brasil melhor. Só que um acha que o caminho é o A e o outro acha que o caminho é o B. Então, eu acho que, aos poucos, tem cada vez mais pessoas conscientes, que estão entendendo isso, e que vão tomar a frente para conseguir fazer com que o Brasil seja um país melhor para todo mundo e não só para alguns.

Tem, no mercado imobiliário, uma nova onda de IPO se aproximando. Como você vê esse futuro da Gaia?

A Gaia quer fazer um mundo melhor, independente de como ela vai fazer. Então, eu estou mais preocupado com a transformação que a gente vai causar, do que com o que a gente faz. Aquele negócio: o porquê é mais importante do que o como.

Tem um livro que você escreveu, o Onda Azul, que tem "5 passos para inspirar as pessoas a fazer um mundo melhor". E nesses 5 passos, o primeiro é "fazer a empresa sobreviver".

Imagina quando uma criança nasce, você vai conversar com a criança sobre o futuro dela, sobre o propósito? Não. Ela tem que sobreviver, tem que tomar leite, acabou. E uma empresa é a mesma coisa. Não adianta uma empresa no começo estar pensando no IPO dela, cara, você nem existe ainda. O primeiro passo de uma empresa é sobreviver, é faturar, é convencer alguém a ser seu cliente, é pagar o salário de alguém, é fazer a roda girar.

O que te inspira? Como é seu dia-a-dia?

Eu acho que é muito importante a pessoa entender que ela não é só trabalho e a vida como um todo. Então, eu procuro ser um pai presente para minhas filhas, eu acho que, independente de quantos funcionários eu venha a ter ou tenha, nada vai ser mais importante do que eu ser pai. Isso para mim é super relevante. Outra coisa importante é o descanso. Então, um hábito que eu tenho há muitos anos, mas eu tenho essa facilidade, eu não coloco despertador. 

Qual seu livro de cabeceira?

Hoje em dia, sou curador de uma caixa de livros que chama BOX CLUB. Pode entrar na internet e todo mês a pessoa recebe um livro que eu fiz a curadoria. Tem um livro que é muito bom para líderes que chama "Líderes se Servem por Último", é muito bom.

Para um jovem que está começando hoje, qual o seu recado?

O jovem está olhando muito o futuro, o que ele vai ser, quando vai chegar lá, mas viva o momento presente. Não viva o futuro. Viva o agora. Quanto melhor você for agora, melhor vai ser no seu futuro. O futuro é construído no agora. E tem uma pesquisa que mostra que, em quase metade do tempo em que estamos acordados, a gente não está no momento presente. Então viva o agora, o presente que vale. E a felicidade está na caminhada, não está na chegada.

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